Vincent Wilhelm Van Gogh
30 de março de 1853
Auto retrato
Saint Rémy, setembro 1889
Coleção Musée D'Orsay
Paris, França
Van Gogh, foi além de um grande pintor, um infatigável escritor, sua obra é uma das mais bem documentadas justamente porque escrevia contínua e minuciosamente, seu principal interlocutor foi seu irmão Theo. O trecho abaixo foi tirado de uma das centenas de cartas que escreveu para ele, nesse trecho aparece o lado gozador e irônico, em uma forma muito saborosa faz uma crítica aguda à vida e ao mundo tidos como obra divina.
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O que é sempre urgente é desenhar, e que isto seja feito diretamente com pincel ou com outra coisa, como pena, por exemplo, nunca é o suficiente.
Procuro agora exagerar o essencial e deixar propositalmente vago o banal...
Cada vez mais eu acho que não se deve julgar o bom Deus a partir deste mundo daqui, pois este é um estudo seu que não deu certo.
Que você quer, nos estudos fracassados, quando apreciamos o artista - não encontramos muito o que criticar - e nos calamos.
Mas temos o direito de exigir algo melhor.
No entanto, seria necessário vermos outras obras da mesma mão, este mundo aqui foi evidentemente feito
às pressas num daqueles maus momentos, em que o autor não sabia mais o que estava fazendo, e já tinha perdido a cabeça.
O que a lenda nos conta do bom Deus é que assim mesmo ele se esforçou tremendamente neste seu estudo de mundo.
Sou levado a crer que a lenda diz a verdade, mas então o estudo fracassou de várias maneiras. Só os mestres enganam-se desta maneira, este talvez seja o melhor consolo, já que temos então o direito de esperar que esta mesma mão criadora tenha sua revanche. E a partir de então esta vida, tão criticada por tão boas e até excelentes razões, não devemos toma-la por outra coisa além do que ela é na realidade, e nos resta a esperança de ver coisa melhor numa outra vida.
Carta 490
Arles, 19 de maio de 1888
no livro: Cartas a Théo
editora L&PM